Pelo fim da colaboração da Universidade de Coimbra com o Estado colonial israelita.Tendo tomado conhecimento de que a Universidade de Coimbra lançou um projecto de investigação conjunto com a organização israelita International Security and Counter-Terrorism Academy (ISCA), os abaixo-assinados consideram essa decisão um atentado contra as tradições da Universidade de Coimbra no que elas têm de profundamente anti-racistas, anti-colonialistas, democráticas e emancipatórias. E apelam, por esse motivo, ao cancelamento imediato e incondicional desse projecto.
Assine a carta a enviar à universidade de Coimbra:
Tomamos a liberdade de vos escrever a respeito da cooperação actualmente em curso entre a Universidade de Coimbra e a International Security and Counter-Terrorism Academy (ISCA), no âmbito do projecto Scientific Approach to Fighting Radical Extremism (SAFIRE).
Gostaríamos, em primeiro lugar, de chamar a vossa atenção para o facto de a ocupação de territórios palestinianos ser ilegal e formalmente condenada pela comunidade internacional em todos os seus organismos de relevo, nomeadamente a ONU, a OIT e a União Europeia. A construção do muro que tem acompanhado a ocupação de cada vez mais território palestiniano separa as populações dos seus locais de trabalho, das suas terras, das suas escolas. Em Abu Dis, por exemplo, o muro passa pelo meio do campus da universidade e atravessa o campo de futebol. Os estudantes universitários muitas vezes não conseguem chegar às suas universidades, o que acontece frequentemente em Birzeit. Estudantes árabes israelitas não podem apresentar teses relacionadas com a Naqba. E poderíamos aqui referir muitos mais exemplos da opressão sob a qual se vive diariamente na Palestina ocupada.
No entanto, a qualquer acto de resistência do lado palestiniano, Israel responde com mais violência. Até mesmo a comemoração da Naqba sob forma de peregrinação aos locais de 540 aldeias destruídas após 1948 é punida com três anos de prisão. Às crianças e jovens que atiram pedras aos tanques israelitas, Israel responde com actos de verdadeiro terrorismo. A população civil de Gaza é todos os dias bombardeada pelo exército israelita.
A condenação generalizada da ocupação e dos seus crimes - como foram os cometidos durante a ofensiva contra a Faixa de Gaza que provocou 1400 mortos civis, ou no ataque em águas palestinianas ao navio Marvi Marmara durante o qual o exército israelita executou nove passageiros - estende-se igualmente à cooperação com qualquer tipo de instituições estreitamente ligadas ao Estado de Israel, como é o caso da ISCA. Com efeito, uma tal cooperação constitui um acto de cumplicidade com apoiantes activos e beneficiários da ocupação colonial da Palestina.
Gostaríamos igualmente de recordar-vos que existe desde 2005 uma campanha internacional de boicote e desinvestimento contra Israel, semelhante àquela que ajudou a derrotar o regime de apartheid na África do Sul. Com vista a isolar internacionalmente o Estado pária de Israel, empresas, bancos, municipalidades, artistas de todo o mundo têm sido sensíveis a esta campanha, adoptando medidas de boicote, sanções e desinvestimento em relação a organizações israelitas coniventes com a ocupação. No domínio académico, para citar apenas um exemplo, o caso mais recente foi o da Universidade de Joanesburgo, na África do Sul, que cortou todas as suas ligações com a Universidade israelita Ben Gourion.
Se a cooperação com instituições oficiais israelitas no âmbito universitário é já de si condenável e merecedora de boicote, a cooperação com uma academia especializada em “anti-terrorismo”, como a ISCA, consiste em dar a mão ao próprio aparelho repressivo sionista. Esta “academia” situa-se no coração da história mais sanguinária de Israel e procura branquear a sua imagem cooperando com uma academia portuguesa que em 1969 sofreu os rigores da repressão fascista.
Também em Portugal, há organizações empenhadas na campanha de BDS – Boicote, desinvestimento e sanções -, cuja última vitória foi a desistência do Festival de cinema Queer Lisboa em aceitar o habitual apoio da embaixada de Israel.
Vimos portanto solicitar-vos que reconsiderem a cooperação com a ISCA, sob pena de colocarem a Universidade de Coimbra numa posição de cúmplice com um regime de apartheid, de limpeza étnica e de genocídio cometido contra homens, mulheres e crianças palestinianas. A Universidade de Coimbra tornar-se-ia, nesse caso, um alvo legítimo para a campanha internacional em curso contra o apartheid israelita e seus cúmplices.
Com os nossos cumprimentos,