Exmo Srº Presidente da Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia
Infelizmente e apesar da ilegalidade as matanças do porco estão aí à porta, como de costume com a chegada dos primeiros frios de Inverno. Aquilo que muitos ainda chamam de tradição não passa apenas de mais um ato de violência sobre este animal.
Gandhi dizia que a grandeza de um país e seu progresso podem ser medidos pela maneira como trata seus animais. Infelizmente estas matanças a que chamam tradições que decorrem entre Novembro e Fevereiro estagnaram no tempo e espaço perpetuando os erros e más práticas do passado que impressionam à vista qualquer pessoa sensível, humana, dotada de consciência e razão.
Com a evolução da sociedade o pretexto do antigo Portugal Rural que juntava amigos e familiares em dia de festa para matarem um porco já não é desculpa para que as comunidades se juntem em festa nem tão pouco essencial à partilha da sua identidade e cultura que se perpetua através do convívio salutar, da música, da dança e de outras actividades recreativas.
Hoje temos conhecimento científico suficiente para saber que um porco, é um animal senciente, em tudo equivalente a um animal de estimação, mais inteligente que um cão por exemplo, que tal como o ser humano também sente dor, medo e não quer morrer. Estamos a falar de um animal alegre, inofensivo, esperto, curioso, independente e muito, muito inteligente, o porco possui uma inteligência ao nível de uma criança humana de três anos de idade.
Submeter um ser senciente ao terror de ser perseguido, atacado, torturado, agarrado à força e por fim morto num ritual de autêntico circo romano faz a apologia da violência e apela à falta de empatia com o sofrimento de outros seres, ignorando os seus gemidos de dor e de agonia é das maiores cobardias que podem existir.
A morte violenta de um ser sensível num circo de crueldade não tem lugar nos nossos dias, não devendo as crianças e os jovens serem expostos a ritual tão bárbaro.
A identidade cultural de uma comunidade afere-se pelos laços de solidariedade que existem entre os membros que a compõe, o espírito de entre-ajuda de que os seus membros são capazes em tempos de dificuldades, o espírito inventivo e criador através da criação de música, de canções, danças e histórias que passam de geração em geração.
Nem todas as tradições são boas e felizmente podem ser melhoradas pois queimar mulheres acusadas de “bruxaria em fogueiras”, escravizar os negros, não dar o direito de voto às mulheres, etc. eram também tradições sem sentido que felizmente evoluíram positivamente.
Pedimos a V. Ex.ª que deixe de apoiar publicamente a matança do porco deixando de participar nos eventos em que a mesma tenha lugar.
